sábado, 7 de novembro de 2015

"O HERDEIRO DAS TREVAS"

PRÓLOGO

Em um lugar distante, muito além do que se possa imaginar, onde os últimos ventos sopram e todos os mares se encontram. Existe um reino chamado Nargón, onde habitam humanos e seres sobrenaturais. Um lugar magnífico, onde as águas correm entre as montanhas formando enormes cascatas; as águas parecem cobertas de púrpura e as florestas são tingidas de um verde muito viçoso. À noite podem ser vistas as estrelas mais brilhantes de todo o universo e quando o canto das sombras se torna tão maior, uma lua azul emerge no céu, indicando que a escuridão chegou e os deuses descansam.
Houve um tempo, há milhares de anos, em que os deuses - os seres mais poderosos do universo. Viviam sobre a superfície e todos podiam vê-los. Não eram bons nem maus. Cada um possuía a luz e escuridão dentro de si, bastando apenas, que um lado fosse despertado. Eram eles quem mantinha o equilíbrio sobre os elementos: ar, água, terra e fogo. Se os deuses estivessem em harmonia, toda a natureza também estaria. Entre todos os seres aqueles que os deuses mais amavam, eram os puritanos - como os humanos passaram a ser chamados para diferenciá-los das demais raças que lá viviam. Ninguém sabe dizer ao certo de onde os puritanos vieram. Pois, no período excelso, coabitavam em Nargón, apenas, deuses e todos os seres que á partir deles foram gerados – os sobrenaturais. Os mais velhos contavam que os puritanos eram nômades vindos de terras longínquas, muito além do deserto vermelho, em um período de grande escassez. Vieram em busca de novos territórios que lhes assegurasse a sobrevivência. Outros dizem que eram fugitivos de uma provável invasão por seres superiores, quando sua raça cheia de soberba, quis mostrar-se invencível, e por isso, quase fora aniquilada, restando apenas, aqueles que conseguiram fugir antes da chacina. Outros mais supersticiosos asseguram que eles desceram dos céus dentro de ovo de metal. E ainda há outros que defende a lenda que conta como eles enganaram os olhos dos deuses atravessando o grande mar negro no estômago de uma serpente primitiva. No entanto, alguns sábios supõem a teoria na qual, os puritanos originam-se de uma raça predadora, onde eles próprios eliminam-se uns aos outros por causa do mal que existe em seu coração. Destroem tudo aquilo que tocam, e, de tempos em tempos, partem para explorar novas terras, onde possam se reproduzir e esgotar todos os recursos existentes, como fora desde o princípio. A verdade é que, não importa de onde os puritanos vieram ou como chegaram a Nargón. Desde que colocaram os pés na terra dos deuses, encheram-se de encantos pela vida que emanava em todos os lugares. Seus olhos despertaram a cobiça pela a natureza verde, as árvores frutíferas, a terra fértil e até pelo ar doce que respiravam. 
Todos os habitantes de Nargón consideraram aquelas criaturas muito estranhas. E logo, levantaram-se muitas suposições sobre o que eram, de onde vinham e o que significavam. Mas, em algo todos concordaram, que aqueles seres pequenos deviam ser mortos antes que pudessem lhes causar algum mal. Entretanto, os deuses, os haviam observado por longo tempo, sendo invadidos por imensa curiosidade a respeito de seu comportamento. Afinal, que mal, criaturas tão frágeis poderiam fazer-lhes. Permitiram que os humanos ficassem por um período até se restabelecer para prosseguir o seu caminho para longe. 
Assim, aconteceu, um dia após o outro. Pois, quando mais os deuses tentavam decifrá-los. Mais eram surpreendidos por aquelas estranhas criaturas. Se os deuses soubessem á quem davam abrigo, teriam tratado de matá-los, assim que o primeiro humano chegou á terra divina. Logo, os puritanos, antes frágeis e cheios de humildade, rapidamente se multiplicaram, tornando-se numerosos. Para protegerem-se dos perigos que lá existiam , criaram armas, e mais tarde, desenvolveram habilidades especiais. Surgindo assim, os primeiros guerreiros. Por causa da inteligência, astúcia e forte instinto de sobrevivência, conseguiram impor respeito as demais raças e não demorou até que, se tonassem a raça dominante sobre tudo e todos. 
Nargón, como em todo lugar que se tem conhecimento, sempre foi um lugar propício a diversos conflitos que já existiam muito antes dos humanos a invadirem, sejam elas por territórios, alimentos, ou por qualquer motivo sem importância. É da natureza primitiva de todos os seres guerrear por qualquer motivo Mas, graças à perspicácia dos puritanos. O território de Nargón foi dividido de modo a suprir a necessidade de todos, sem que essas vivessem se matando uns aos outros, estabelecendo um pacto de não agressão. Desde então, iniciou-se um período de paz entre todas as raças. A medida que os territórios se expandiram e a sociedade progredia, era preciso nomear um governante que zelasse pelo reino, respeitasse as diferentes classes e considerasse a necessidade de todos,  e acima de tudo, obedecesse a vontade dos deuses. E não seria ninguém menos, do que um puritano. Abençoados pelos deuses, as terras eram fartas e as colheitas generosas. Em agradecimento as dádivas recebidas, os puritanos realizavam oferendas aos deuses. O que agradava-lhes bastante, enquanto estes só cresciam em seu favorecimento. Porém, com o passar dos séculos, os puritanos tonaram-se soberbos, esqueceram de onde vieram e que não eram filhos legítimos de Nargón. Constantemente, desafiavam os deuses, não temiam mais os espíritos e até, consideravam-se mais merecedores do reino, do que os sobrenaturais – os habitantes nativos. 
Devido a tanta arrogância e  infâmias frequentes, os puritanos acabaram por despertar a fúria do grande dragão que passou a acreditar que os homens temiam mais os próprios homens do que os deuses. No ano 3.000 do calendário ariano, que conta  a partir da chegada do primeiro humano a Nargón, Dracon, o protetor do fogo, enlouqueceu. Começou a considerar a vida humana inútil movido pelo intenso rancor que sentia pelos puritanos, acabou por despertar a escuridão dentro de si. Na tentativa de salvar a própria pele, um mago, cujo nome era Abracux, pertencente a ordem responsável por proteger e guardar todos os objetos  sagrados no templo, entre eles, o livro proibido de Eliah que contem todos os segredos do universo, traiu seu juramento quando utilizou seu conhecimento em favor do mal, descobrindo através do livro, uma maneira de eliminar os outros deuses que opuseram-se terminantemente aos objetivos de Dracon. Por consequência, também passaram  a ser caçados pelo elementar do fogo que desejava ser o único espirito imortal dominador do mundo. O astuto mago, também libertou das profundezas um exército de espectros negros - seres malignos que adquirem a forma de demônios e se fortalecem nas almas possuem.  Tão logo, o poderoso dragão teria seu exército. Matando qualquer um que atravessasse o seu caminho, fosse puritano, Deus, ou até mesmo, os sobrenaturais. Quanto mais ele matava, mais forte se tornava percorrendo um caminho sem volta para escuridão. 
A terra divina nunca conhecera dias de tamanho terror como os que se seguirão. Desesperados, todos aqueles que não lutaram ao lado do dragão, tentaram fugir para longe com suas famílias, buscando salvar aqueles que amavam. Mas, ninguém conseguia permanecer oculto por muito tempo aos olhos de Dracon, que queimava tudo por onde passava. Milhares morreram nas primeiras horas e as sombras submeteram todo reino a uma atmosfera tenebrosa. Os mais velhos contam, que até a estrelas sentiram medo e também se esconderam. A única luz que se pode ver por muitos dias, era as chamas que sobravam da boca do dragão. Ninguém possuía coragem necessária para enfrentar a fúria do Dragão, pois até os mais destemidos sabiam que seriam mortos se tentassem. Nem mesmo os deuses conseguirão vencê-lo, sozinhos. Obrigando-se a permanecer escondidos no vale do sol, próximo as montanhas de gelo, até que não restasse mais opção além de lutar. O xamã sendo o mais sábio entre eles, sabia que jamais poderiam vencê-lo se não contassem com forças maiores. E mesmo a hidra que sempre fora a mais corajosa, tinha conhecimento que Dracon havia se tornado muito poderoso. No entanto, estavam cansados de se esconder , como se não fossem eles próprios também, deuses, e preferiam perder a vida a ter que continuar fugindo do dragão. Na mesma ocasião, quatro puritanos, jovens guerreiros, que nada tinham de extraordinário, além de um coração destemido e espirito virtuoso, partiram de lugares distintos ao encontro dos deuses para lutarem ao seu lado. A coragem dos jovens, ascendeu a esperança nos espíritos desacreditados e a notícia rapidamente se espalhou em todos os lugares que os ventos puderam alcançar. Seres de todas as raças, encheram-se de confiança por causa dos jovens guerreiros, abandonando os seus esconderijos para juntar-se aos deuses. E não tardou, a forma-se um grande exército: deuses, puritanos, centauros, ninfas, fadas, minotauros, gigantes, e muitos mais, todos lutando contra as trevas. Pois, todos tinham conhecimento que o desequilíbrio entre os deuses elementares acabaria com a vida sobre a terra. E no sétimo dia, iniciava-se a batalha dos deuses, que durou, exatamente, trinta noites e trinta dias. 
No último dia, aqueles que perduraram não possuíam mais forças para continuar. Então, os deuses perceberam que perderiam a batalha contra o grande dragão e nada mais poderia ser feito para salvar aqueles que haviam sobrevivido. Como última tentativa, os deuses fizeram um sacrifício. Disporam de toda a energia contida em seus espíritos para invocar a fênix, a entidade mais antiga do mundo que vaga pelo universo,também conhecida como, espírito da luz. A fênix renasceu gloriosa do abismo de fogo, envolta em luz e chamas. Muito mais poderosa do que jamais estivera . Não tardou a derrotar Dracon e seu exército de criaturas malignas. Após o triunfo sobre as trevas, quando a Fênix contemplou toda destruição causada pela guerra, entristeceu-se profundamente e lágrimas caíram dos seus olhos sobre a superfície, fazendo com que, toda natureza renascesse. Contudo, a fênix não possuía domínio sobre as profundezas para trazer de volta tantas vidas que foram perdidas. Em agradecimento, por todos aqueles que lutaram em favor do bem, fez uma promessa a todos os seres, que nenhum dos deuses voltaria a ameaçar a vida daquela forma. Assim, ligou o espírito dos deuses á seres mortais para lhes lembrar de sua fragilidade. 
Os deuses jamais habitariam sobre a superfície em sua forma original, seus espíritos estariam ligados para sempre a seres inferiores, e dessa forma, surgiu a lenda sobre os elementares que diz:“Sempre que o mal prevalecer, os deuses irão renascer, para guiar a luz de volta ao mundo”.